segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Contato Improvisação por Luiza Rosa


- Se quiser fazer seu chá, café, tem a cozinha ali, fica à vontade e lave o que usar.
Fui em uma aula de contato-improvisação na sede da cia. oito nova dança e também casa da diretora, Lu Favoretto (Perdizes-São Paulo).
Ser míope não era um problema. As alternativas além dos olhos fechados era olhar desfocado, próximo ao corpo, a partir da sensação da pele, e só então amplo, para sentir a todos e à sala inteira.
Na iluminação amarelo-avermelhada quase desligando, os movimentos iam se desenvolvendo a partir de proposições do Alex (Ratton), professor. Ele num canto perto do aparelho de som, trocando as músicas que também propunham ritmos. Estava com o tornozelo inchado, torceu o pé por bobeira durante o espetáculo Tráfego, da cia. quatro nova dança (que estava em cartaz no Sesc Pompeia). “Bom, vocês que podem...” se referindo aos alunos que logo estariam dançando enquanto ele tinha que ficar de molho, “parece que dói mais quando alguém que dança machuca, dói mais aqui (colocou a mão no peito)”.
Rolar de um lado ao outro, sentir o peso do corpo no chão, as laterais do corpo encostando o chão. De olhos fechados tentar não encostar em ninguém, sentir quando alguém está próximo, sentir a energia, a sombra nas pálpebras, se movimentar suavemente para que se houver encontros, serem encontros brandos, toques que logo desmancham. Crescer do nível baixo, pro médio, pro alto, mantendo a sensação de densidade do chão, transposta pro ar, pros entres, entre os pés e o chão, entre os corpos, alternando olhos fechados, semi-abertos, abertos, aumentando-diminuindo a velocidade, alternando os níveis, longe e perto, seguindo ou não ritmos da música.
“Fechem os olhos novamente e façam um círculo, em pé, de mãos dadas.” Círculo? Nem sei direito onde estão as pessoas que eu posso dar a mão! Incrível como que o corpo vai se adaptando. Depois de umas 2 horas experimentando olhos fechados e semi-abertos, realmente conseguia perceber que tinha alguém se aproximando. A audição fica mais aguçada, a pele também. Rosto e frente do corpo não são mais lados primordiais pra perceber qualquer coisa. Continuo a produzir imagens, só que com uma conexão mais forte com a abstração, sentia uma caixa próxima dos meus pés, onde eu não podia pisar. Fui verificar com as mãos, era a cabeça de alguém rs Conseguia imaginar as cores do que eu encostava, e do entorno da movimentação. As repirações próximas me faziam imaginar quem seria essa pessoa do meu lado esquerdo, se bem que não importava muito “pessoa” enquanto imagem, sentia que eram “seres”.
O ônibus cheio não me incomodou tanto depois. Nem o vazio da calçada. Havia sincronia entre o abrir do sinal, o momento de chegar próxima da faixa de pedestre, e a alternativa de desviar de quem estava mais apressado ou mais calmo que eu. Percepção realmente alterada, viva. Dos gardenias para ti... mi vida... Consegui sentir de novo que “não há caminho, se faz caminho ao andar”.
P.S. Se quiserem ver um pouco do espetáculo Tráfego, acessem o link: http://www.conectedance.com.br/videos.php?videos_video=TR_FEGO_MAKING_FINA.flv O vídeo foi postado no site Conectdance, e é comentado pela diretora, Cristiane Paoli Quito.

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