segunda-feira, 5 de setembro de 2011

EU FUI: "Caminhão da Cultura"

No dia 28/08/2011, EU FUI acompanhar um dos meus grupos (Cia. Dançurbana) em uma apresentação no Caminhão da Cultura da FUNDAC – Fundação Municipal de Cultura, no bairro São Conrado.

O caminhão da Cultura é um projeto que tem como objetivo levar apresentações artísticas culturais para os bairros periféricos da cidade, com o intuito de disseminar e divulgar as produções artísticas da capital, sendo que, todas elas acontecem no espaço do próprio caminhão.

No entanto, quando pensamos no objetivo do projeto nos faz crer que esse caminhão tenha uma estrutura que comporte tais apresentações, mas infelizmente isso não acontece. Na maioria das vezes as apresentações acontecem no chão, pois no caminhão a apresentação se torna inviável - o espaço é pequeno para comportar grupos, artistas e todos os equipamentos de som e luz necessários para uma apresentação de qualidade. Sendo essa análise feita sob a perspectiva da dança, nota-se também pequenos acidentes de percurso ocorridos durante as apresentações, como: pregos do tablado do palco expostos, grampos, resquícios de vidro, a inexistência do linóleo, além do equilíbrio do caminhão que durante as apresentações, se segura para não desabar.

É preciso contar com a contribuição de todos os artistas que participam ou não desse tipo de projeto, e eu me incluo nele, porque somos nós artistas que sabemos o que é necessário para que nossa arte/trabalho seja desempenhada de maneira digna.

Infelizmente, essa preocupação é restrita a uma parte da classe artística que vem apresentando seus trabalhos dentro do projeto. Poucos são os espaços destinados para troca de informações e reclamações sobre esse tipo de serviço/ação prestado sob a gerência de nossa fundação.

Vale também ressaltar que iniciativas como essa devem sim, valorizar e estimular todo e qualquer tipo de manifestação cultural e serão sempre bem vindas, porém devem ser aprimoradas SEMPRE, senão não há melhora, é como construir um prédio lindo e não dar manutenção a ele.

E no caso da dança, essa manifestação pode ter caráter de “massa” ou “erudita”, seja ela realizada em salas e estúdios de dança ou mesmo em pátios de escolas e varandas de casas, mas cabe a nós artistas/educadores reavaliarmos nossa conduta, pois somos formadores de opinião e “alguns” de nós realizam um trabalho com viés para o despertar humano e social através da arte e da cultura.

Contudo, é preocupante assistirmos uma criança de 05 anos de idade em cima do palco a realizar uma coreografia que tem ênfase e tendência sexual, fazendo um contraste com a sua natureza infantil. É comum presenciarmos cenas como essas sendo tratadas conturbadamente como arte e cultura.

É conveniente lembrar que não estou levantando uma verdade absoluta e sim um pensamento e uma crítica, sobre as condições e estruturas fornecidas pelos órgãos públicos da cultura municipal.

Acredito que refletir sobre é importante para que não fechemos os olhos para uma conduta que deturpa e vai de embate com alguns métodos e processos educacionais de formação do cidadão e do jovem, que já tem modelos estabelecidos de danças que giram em torno de lacraias, cachorras, tigrões, pica pau e todos os outros bichos que nos trazem uma visão da dança maliciosa e sexual.

E por fim é necessário refletirmos que projetos como esse - destinado ao público de bairros periféricos, não podem em hipótese alguma girar em torno do "qualquer coisa serve", pois aprendi com um grande professor e estudioso em dança, "QUE TUDO PODE, MAS NÃO PODE QUALQUER COISA". (Roberto Pereira)

4 comentários:

  1. "As ideias estão no chão. Você tropeça e acha a solução" do bom e velho Titãs.
    Quando a gente ouve mais pessoas tem mais chance de cometer menos erros.

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  2. Ficamos sempre a pensar por onde mesmo caminha o sentido de cultura para as emendas políticas em nosso território.

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  3. são dois assuntos sérios!

    > as condições estruturais que o poder público oferece para a arte: temos que cobrar respeito. não só pela ideia de dignidade, mas pela única possibilidade de continuarmos trabalhando. se o descaso do poder público é grande e a gente aceita, daqui a pouco, não vai fazer grande diferença ter ou não ter nosso trabalho apreciado por qualquer público (não vai fazer diferença pra GENTE, pro PÚBLICO e nem para o PODER PÚBLICO). tem que ser pontual, tem que se colocar, tem que espalhar a notícia sim, Marquinhos, parabéns pela iniciativa.

    > quanto ao conteúdo do trabalho exibido em relação às crianças: eu não sei. vou pensar a respeito.

    :*

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  4. Esta é só UMA das "iniciativas" desajustadas da Fundação de Cultura. Temos muito o que fazer e tomar consciência da seriedade deste relato nos torna mais responsáveis ainda pelo processo e o papel da daná quanto arte.

    Parabéns Marquinhos! Nunca vi o tal "caminhão da cultura" e, por isso, não tinha noção. Obrigada por compartilhar aqui.

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