segunda-feira, 14 de novembro de 2011

noiva despedaçada / Ricardo Iazzetta

foto: Gil Grossi

Sobre os cacos. Porque foi isso. Com todas as possibilidades que isso pode abranger. Os cacos não foram o final, o que resta. Eles foram justamente o ponto de partida. Ele faz isso, entra em cena e, agressivamente, faz com que todas as pilhas de pratos virem pequenos pedaços jogados e espalhados por todo canto. Sem hesitação. A maneira como ele quebrava pouco importava, o que sobrava era sempre a mesma coisa. Cacos. E pronto. O que eu achei que seria um fim na verdade era o começo de tudo. Cacos presentes, a dança se deu. As potencialidades dos cacos foram evidenciadas. Às vezes com movimentos, às vezes sem. Quando tinha, não era nada imposto, nada tão certo que não pudesse ser deixado a qualquer momento. E não era abandono. Era uma constatação, algo para dizer que aquilo existiu, sem grandes imposições. A beleza de existir com os cacos, com tudo despedaçado. As novas possibilidades de existência a partir daí. Era sobre as coisas que poderiam nascer, mas também sobre aquelas que morrem. Era dançar em cima dos cacos, com eles e também apesar deles. Nada precisava ser juntado, apenas vivido. “Desculpem a obviedade, assim como nós desculpamos as coisas rígidas”, em um momento ele disse. A obviedade me pareceu de uma beleza incrível. E quando a luz começou a se apagar, meus olhos foram se fechando em um movimento de apagar e absorver, tudo ao mesmo tempo.

Denise Delatim
Denise iniciou sua experiência em dança em Dourados/MS. Nos últimos anos integrou o grupo de experimentação em dança DançaSIM, o trabalho "Pensamentos do corpo" da Cia. DOME (dirigida por Blanche Torres), o curso de especialização em Dança da Universidade Católica Dom Bosco (coordenado por Denise Parra) e, atualmente, estuda na graduação em Comunicação das Artes do Corpo, na PUC de São Paulo.

Um comentário:

  1. Torço para que o espetáculo seja tão bom quanto o texto sobre ele. Turminha porreta a deste blog. A minha turma.

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