segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Alegria, alegria (o presente de ser Brincante logo no primeiro dia)

Walter Carvalho e Antônio Nóbrega no set do filme "Brincante"
Foto: Carol Araújo


Em novembro trabalhei em um projeto de cinema pela produtora Gullane Filmes chamado “Brincante”, sobre a obra de Antônio Nóbrega. Pra tudo ficar ainda melhor e me causar aquele sentimento delícia de honra, prazer e orgulho, "Brincante" é um filme dirigido por Walter Carvalho, que entre muitos filmes que já fez, fotografou dois dos meus favoritos: Madame Satã e Terra Estrangeira (da frase linda dita no final "eu vou te levar pra casa, meu amor").

Meu trabalho no filme era de segunda assistente de direção, e pra quem não está habituado a este universo de múltiplas divisões de funções dentro de um esquema de cinema produzido num modelo, digamos, industrial, explico que a função do segundo assistente de direção é a de planejar o dia seguinte de filmagem, juntar, organizar e comunicar todas as informações de tudo que acontecerá no dia de amanhã para todos os departamentos do filme (Arte/Figurino/Alimentação/Maquinária/Câmera/etc).

O primeiro dia de filmagem foi em um Estúdio apenas com o Nóbrega. Ele é um homem de quase 60 anos, de baixa estatura, corpo ágil, voz suave e uma preparo físico admirável, sua vida toda é dedicada à arte, a uma pesquisa longa e profunda sobre a corporeidade e dos movimentos que formam a nossa tal brasilidade, movimentos que misturam elementos das danças, dos rituais, do nosso imaginário e estabelece com tudo isto um jogo de liberdade entre as tradições e a sua criação individual. Estávamos todos no Estúdio diante de um grande artista, do tipo raro e apaixonante.

Como segunda assistente de direção, não fico onde está rolando a filmagem, fico sempre em uma sala que a gente chama de base, mas terminadas as minhas obrigações fui para o Estúdio bisbilhotar e ver o Nóbrega dançando. Aquela imagem, no nosso primeiro dia de filmagem me impressionou, me tocou. Não apenas por ser o Nóbrega, mas por ver que absolutamente todos da equipe estavam embasbacados, com os olhos brilhando, diante daquele homem que dançava, por inteiro. Fiquei lá observando de perto Nóbrega, o encantamento da equipe e Walter falando para que ele se entregasse mais e mais e mais. Walter pedindo a cada instante que a câmera construísse uma imagem mais apropriada ao corpo do artista e também que Nóbrega dançasse com a câmera. Ele dançou com e para a câmera, e todos da equipe dançamos junto com Walter e Nóbrega. Foi mágica pura. Ao fim da diária, muitos da equipe estavam emocionados e chorando. Pensei comigo, "que presente". Voltei pra casa e chorei também, verti lágrimas embaixo do chuveiro, feliz, agradecida e plena.

Além do presente diário de poder conviver com Walter, com Nóbrega, com a equipe incrível do filme e a família Brincante, passei a ter duas convicções ainda mais fortes dentro de mim. A primeira é que precisamos da dança na vida da gente. Nós deveríamos dançar mais, nosso corpo precisa disso. Ficamos mais vivos, mais bonitos, mais generosos e mais saudáveis quando dançamos. E a última convicção é a de que, definitivamente, eu preciso do cinema na minha vida, pois é principalmente através dele que vivo momentos que me tornam mais viva, mais bonita, mais generosa e mais saudável.

Os outros dias eu conto depois.

P.S.: Ah! O filme deve ficar pronto daqui a um ano, mais ou menos!



Carol Araújo
Carol Araujo, 29 anos, em plena crise dos 30, mas tem gente que dá "no máximo" 25, e ela adora. Já foi atriz, produtora e gestora cultural, batuqueira e agora trabalha com cinema. Quando não dá, também com publicidade. Fotógrafa de amigos. Diretora de filmes em potencial (os filmes e ela). Mora em São Paulo, mas tem olhos vez em quando voltados pra Campo Grande, cidade em que morou por 20 anos. Faz o melhor cuzcuz marroquino já comido por alguns amigos. É casada com Roger, tem uma irmã chamada Clarissa e um irmão chamado Gabriel. Os pais se chamam Luiz e Iria. Pretende terminar de ler até o final do ano "Por quem os sinos dobram" de Hemingway, mesmo duvidando disso.

2 comentários:

  1. lindo, Carol, que depoimento lindo! e continuar escrevendo devia ser a terceira convicção.. pra gente saber cada vez mais da sua elaboração desse trabalho-aventura ;) quero maaaais!

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